Faltavam 3 minutos para as 4 da tarde. O calor corroía as têmporas dos transeuntes. Por todo lado viam-se pessoas esbaforidas e molhadas. O suor escorria intransigente pelos rostos, braços e cabelos. Uma tarde típica de verão. A cada passo a maleta de couro pesava e tendia a escorregar da mão de Antônio. "Chegarei atrasado com certeza" relfetiu o homem enquanto se esmeirava por entre as pessoas na calçada. Por pouco não consegue atravessar a avenida antes de fechar o sinal. Ali, parado, um tanto perplexo por esse incômodo atraso causado pelo acaso, esforçava por enxergar o semáforo que teimava em ficar no vermelho para os pedestres. Nesse tempo, com a mão esquerda tampava o sol sobre os olhos para visualizar melhor. Calor e claridade sufocavam a situação. Olhar para cima era difícil pela luminosidade da estrela maior. Por esse motivo baixou a guarda. Deitou o braço esquerdo junto ao corpo, entregando-se à inevitável espera. "Será que mostro primeiro as planilhas do prospecto financeiro ou do retrocesso econômico comparativo com o ano anterior" refletia vagamente seu cérebro. "É importante que demonstre segurança" continuava a divagar. Como demorava o sinal! Pareciam horas no deserto. Depois de uma buzinada na faixa da direita, quase em sua frente, percebeu que a gravata apertava, esganava seu pescoço. Ao folgá-la de leve, avistou dois meninos brincando ao seu lado, com o pai bem atrás. Olhou novamente o sinal, que permanecia inalterado, como se nunca houvesse sido diferente. Retomou a vista ao seu lado. Os meninos de roupas simples: camiseta, bermuda e tênis. O pai trajava o mesmo vestuário. A liberdade e frescor daqueles trajes fez aumentar o calor que sentia. O pior estava por vir. Enquanto novamente avistava em vão o semáforo, lentamente estacionava entre os partícipes dessa cena um carrinho de sorvetes. "A moderação dos investidores sem dúvida influenciou negativamente as tendências de crescimento" tentava concentrar o pobre Antônio. O pai então com poucas palavras e por meio de algum dinheiro fez o dono do carrinho retirar três picolés do interior do mesmo: dois de côco e um de limão. "Como gosto de picolé de côco", concluía em pensamentos Antônio. Foi quando , de súbito, percebeu-se um movimento coordenado das pessoas em direção à rua. O sinal abriu. Antônio não pensou duas vezes, virou-se, sacou sua carteira e pediu um picolé de côco ao dono do carrinho. Não era de marca conhecida, o que não pôde concluir a princípio, pois avidamente, com uma habilidade que ao menos esquecera que detinha, abriu a embalagem e abocanhou vorazmente o primeiro pedaço. Uma gélida, fresca e saciante sensação era-lhe arremeçada de um lado para o outro no interior de sua boca. Felicidade. O sinal fechou.
sexta-feira, 2 de outubro de 2009
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